Matriz de insumo-producto de AS mapea potencial de integración de la región

Fruto de casi tres años de trabajo intenso, la matriz de insumo-producto (MIP) regional creada por CEPAL (Comisión Económica para América Latina) e IPEA (Instito de Pesquisa Econòmica Aplicada), fue presentada el 18 de noviembre en FIESP, durante el seminario Integración Productiva de América del Sur. El objetivo es que la nueva herramienta permita la formulación de mejores políticas públicas y también dar prioridad a los análisis del sector privado. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp


Fruto de quase três anos de trabalho intenso, a matriz de insumo-produto (MIP) regional criada por Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) e Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) foi apresentada nesta quarta-feira (18/11) na Fiesp durante o seminário Integração Produtiva da América do Sul. O objetivo é que a nova ferramenta permita a formulação de melhores políticas públicas e também o aprimoramento das análises pelo setor privado.

Sebastian Castresana, pesquisador do Cepal, explicou que processo de construção da matriz incluiu 3 seminários em Brasília e um em Santiago. Trabalharam nela 25 pessoas, incluindo funcionários da Cepal e do Ipea.

Cruzando dados em 320 linhas e 320 colunas, usa como ano base 2005 e estuda 8 países (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela) em 40 setores, dos quais 35 de bens e 5 de serviços. A matriz permite ver tanto as transações de bens intermediários quanto de finais.

Como base para a MIP regional foram usadas as matrizes de cada país, com a abertura dos dados sobre as importações de bens intermediários pelos parceiros comerciais. Segundo Castresana, “foi um quebra-cabeças”, para cuja montagem foi preciso fazer ajustes nas peças, com o principal sendo transformar os dados para o mesmo ano base. Também houve homogeneização de setores e conversão para dólar em preços básicos.

O resultado é uma MIP sul-americana com formato semelhante ao de uma nacional, que permite a análise de cadeias de valor.

Entre os próximos passos estão a inclusão de Paraguai e Equador e a atualização para data mais recente. Depois se pretende estender o trabalho para América Latina e Caribe, e, finalmente, integrá-la a outras MIP, como o Tiva.

Renato Baumann, técnico do Ipea, explicou que a estrutura da MIP é “estritamente comparável à matriz da OCDE”. A seleção dos setores foi feita em conjunto com ela, e seus técnicos participaram dos workshops.

O projeto, disse Baumann, teve apoio financeiro de ABDI, CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o que permitiu a contratação de consultores para o trabalho. Vai resultar em publicação conjunta Cepal/Ipea, depois que os dados forem submetidos aos países analisados. Matrizes semelhantes, ressaltou, só existem na Ásia e na Europa. O MIP “mapeia o que existe na região e é uma ferramenta poderosa”.

Baumann disse que é hora de recuperar a competitividade das exportações de manufaturados do Brasil. Lembrou que na América Latina há muito pouco da fragmentação que caracteriza a economia global, como as cadeias globais.

Nanno Mulder, chefe da Unidade de Comércio da Cepal, falou sobre a importância da dinamização do comércio no Mercosul, lembrando que outros parceiros perderam força.

Nádia Scharen, do BID, destacou a baixa produtividade local em razão da baixa integração. Falta acordo regional amplo, disse. 
 

Integração

Ao abrir o seminário, Thomaz Zanotto, diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp, destacou a importância do estudo feito pelo Ipea, usando metodologia da OCDE, sobre cadeias regionais de valor, especialmente na América Latina. Nele, explicou, a Fiesp viu a chance de uma discussão mais técnica, menos politizada, sobre a questão da integração da América Latina vis-a-vis uma integração global.

Zanotto relatou passos recentes da entidade das indústrias na discussão da integração brasileiras. Disse que a Fiesp lançou em 2013 o documento Agenda de Integração Externa, já devido a essa preocupação com uma “parálise do Brasil em termos de integração externa”, deixando um pouco de lado a discussão do Mercosul para avançar em integração forte especialmente com áreas do globo com mais inovação e tecnologia. “Já se falava”, afirmou, “sobre a ausência do Brasil das cadeias globais de valor”.

Em 2014 a Fiesp participou de evento da OCDE em Paris, em que se apresentou a metodologia TIVA (Trade in Value-Added), de mensuração das cadeias globais de valor, identificando o quanto do valor de um produto fica em cada país participante do processo de produção. “O Ipea estava avançado no estudo de cadeia regional de valor, o que se via um pouco na Fiesp na prática, porque o Mercosul na época ainda era (ainda é) polo importante de consumo de produtos manufaturados brasileiros.” “A questão”, segundo Zanotto, “estava muito politizada, sem a discussão técnica necessária”. O tema da integração externa ganhou para a Fiesp prioridade absoluta, segundo o diretor do Derex. “O mundo muda em velocidade vertiginosa. É surpreendente a abrangência do acordo Trans-Pacífico [Transatlantic Trade and Investment Partnership, Tratado de Associação Trans-Pacífico, ou TTP], que vai muito além de comércio e trata já de uma nova governança global”, afirmou. “Não podemos mais deixar passar dois anos até que se decida se o TTP é bom ou não para o Brasil – tem que imediatamente estudar isso.” Ele defende que haja “preparação, estudo, mas não inércia”. Zanotto lembrou iniciativas isoladas, como o Portal Único e o Plano Nacional de Exportações, que estão se juntando e indicam o comércio exterior como um dos pilares da recuperação do país. “Quando a Fiesp participou da elaboração do Plano Nacional de Exportações”, disse Zanotto, “percebeu que para exportar mais as empresas precisam também importar mais. Há necessidade de maior abertura, sim, de maior integração, principalmente com aquelas áreas do mundo que estão se desenvolvendo”. Explicou que as novas tecnologias criam mudanças econômicas que são mais que isso, são geoeconômicas.

Durante o seminário, Zanotto destacou fatores que devem afetar a economia regional, como as possíveis mudanças na Argentina, a maior ligação entre os países da região graças à melhora da infraestrutura e a eliminação de algumas tarifas. “É preciso acabar com o clima de fla-flu em relação ao Mercosul e analisar as vantagens possíveis”, afirmou.

Segundo Zanotto, agora que passou “o bilhete de loteria das commodities”, os países terão que partir para o trabalho prático e aproveitar a existência de um mercado de 400 milhões de pessoas, com grande classe média.

O painel de discussões do seminário, com o tema Potencial de Integração produtiva na América do Sul: Análise da matriz de insumo-produto regional, foi moderado por Mario Marconini, diretor titular adjunto do Derex, que afirmou que os acordos de livre comércio influenciam as cadeias, e o Brasil não avançou nisso. “Nosso bloco perdeu tempo em questões políticas. Contraste enorme com a Ásia é que aqui é preciso algum tipo de acordo formal para a integração, quando deveria acontecer pela necessidade de aproveitar vantagens, de empresa com empresa”, disse. Lembrou que a “pouca propensão à exportação das multinacionais instaladas no Brasil é prejudicial”. Outro problema do Brasil na pauta de exportações é que serviços e logística ficam de lado, e são cada vez mais importantes.

O embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp (Coscex) voltou ao tema no encerramento do seminário, quando perguntou por que as multinacionais instaladas no Brasil não estão no comércio interempresas. Disse que elas se contentam com o mercado interno e não investem em inovação. “Se tivessem condições mínimas aqui”, afirmou, “competitiriam” com outras unidades”. “Mas estão desinvestindo no Brasil.”

Também Baumann, do Ipea, abordou o tema. Explicou que metade das exportações de manufaturados é feita por multinacionais interessadas no mercado da região. “Como fazer”, perguntou, para “que subsidiárias se lancem a outros mercados?” Disse que a agenda do comércio internacional aparece com ênfase muito menor que a do mercado interno.
 

Análises iniciais

Renato Flores, professor da FGV, explicou que a matriz de 320 linhas por 320 colunas exigiu trabalho monstruoso de análise. “É um instrumento descritivo com algo mais”, disse. Permite por exemplo fazer simulações e formular cenários.

Flores falou sobre algumas conclusões tiradas da MIP. Uma delas, a partir do indicador “Dependência para trás”, que mostra o quanto um indicador “puxa” os outros setores da cadeia, é que “somos 8 economias agrícolas ainda”.

A partir da análise da “Dependência para a frente”, que mede de forma ponderada o quanto um setor supre outros, a conclusão é que o Brasil é muito fechado. Uruguai e Bolívia têm as economias mais conectadas e dependentes de seus vizinhos.

Segundo Flores, na integração em serviços, Brasil tem liderança de certa forma desintegrada. Puxa outros, mas não é puxado por eles. Chamou de “pequena tristeza” a baixa frequência de serviços.

Depois de Marconini destacar que a participação dos serviços no PIB doméstico é alta, Flores disse que os serviços não têm encadeamento regional para frente nem para trás. “Não são relevantes regionalmente. Nossa integração se dá por vias clássicas, como automotivo, siderurgia, química, em que os serviços não têm relevância.”
 

Complementaridade

Renato Baumann, do Ipea, disse que a matriz Ipea-Cepal demonstra que existe um potencial de complementaridade na região. “Nem tudo pode ter a produção fragmentada, mas há conjunto enorme de possibilidades que devem ser consideradas”, disse, lembrando que é preciso ir a campo para conhecer os detalhes, “ir dos 6 para 10 dígitos, identificar os setores em que a complementaridade é viável”. Nem sempre o produto ou componente feito num país é o que outro país precisa comprar, explicou.

O Brasil pode ter na América do Sul o papel de concentrar a montagem de produtos finais, com maior valor adicionado que o simples fornecimento de matéria-prima. A complementaridade produtiva daria direção ao processo de integração sul-americana e poderia ser fonte de produtividade.

É fundamental, afirmou, eliminar obstáculos internos à competitividade. Na agenda das políticas macroeconômicas precisa ser incluída a inserção internacional de forma mais eficiente e sustentável. “A matriz serve como ferramenta para isso”, para “criar uma política de Estado”.

Para Marconini, o “grande lance seria atrair empresas que percebessem o Brasil como grande mercado e como hub regional”.

O embaixador Rubens Barbosa disse que o Brasil teria todo interesse em liderar política visando a integrar as economias da região. A Fiesp, lembrou,  liderou o processo, e o tema continuará em sua agenda. “Temos que discutir formas de reinserir o Brasil nos fluxos do comércio internacional”, afirmou.
 

Graciliano Toni, Agência Indusnet Fiesp

 

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